C.H | Rules | Capítulo 6

Regras. 





Na mesma noite daquele dia, a casa tornou-se mais silenciosa que o normal. Situações se seguiram, mas mesmo com todos os desconfortos que se instalaram, ambos conseguiram agir com maturidade sem gerarem maiores discutições. Chelsea pegou-se pensando durante aquela madrugada silenciosa, se seria capaz de conviver com alguém daquele jeito, sentiu-se frustrada por diversos momentos e mesmo depois de tentar se convencer de que, aquela situação não duraria por muito tempo o incômodo ainda se fazia presente em seu interior e todas as vezes em que pensava que teria que passar horas do seu dia convivendo com Caleb no mesmo espaço que o seu,o coração de palpitava em um medo absurdo.

 Ela não conhecia Andrew, não sabia quem o era e por mais que soubesse internamente que, apesar de todos os teus defeitos ele ainda continha qualidades encobertas e desconhecidas por ela, como qualquer outro ser humano, seu orgulho impedia que seus olhos enxergassem além do que sua razão via e ouvia. E aquela situação a amedrontava, por mais que não quisesse admitir.
Pegou-se imaginando como seria uma vida com Caleb, caso os mesmos se tornassem grandes ou apenas simples amigos, tentou levar sua mente a outra esfera desconhecida em um mundo onde os dois se abraçavam e eram felizes ao lado de May, seria muito mais fácil de conviver. Mas, Cher sabia que ela e Caleb eram peças desiguais demais para conseguirem lidar um com outro e manterem uma amizade permanente. 
Voltou a lembrar de horas atrás e da promessa que havia feito, promessa que fora celada por seu consentimento mudo
Campbell tentou de todas as maneiras possíveis encontrar uma estratégia que a fizesse se sentir melhor diante daqueles pensamentos e acontecimentos, mas todos os pensamentos que lhe surgiam não eram cabíveis, compreensíveis ou eficazes. Sua mente cansada e seu corpo também, venceram as preocupações internas, e a mesma adormeceu no silêncio, porém nos pensamentos e preocupações que a atormentavam.

|House Parker’s| 10h30pm|

CHELSEA CAMPBELL

Levantei no dia seguinte ouvindo o estremecer das paredes da casa, tive que reorganizar os pensamentos até compreender o real motivo daquela sensação. O som da sala soava tão alto que as paredes rangiam com as vibrações vindas do andar de baixo, meu cérebro saltava junto das batidas, os olhos quase fechados tamanha a dor vinda da minha cabeça. 
Desci as escadas com cuidado, os olhos comprimidos e a mão posta sobre a testa quente, ainda não tinha dormido o suficiente.
Minhas orbes ainda não estavam totalmente abertas, mais pude enxergar nitidamente, Caleb rodopiando May em seus braços grossos em quanto a mesma ria, fitei o sorriso de Parker ao fitar o sorriso de May e meu coração pareceu parar por alguns segundos. 
Parei junto dele, estática no último degrau observando os dois alegres dançando animadamente no ritmo da música, aquela cena me parecia tão familiar que por alguns instantes (por incrível que pareça) eu me sentia amando Caleb, eu sentia meu coração batendo forte por... Por... Ele.  E de repente o som alto da casa pareceu ficar mais distante, e o som da gargalhada de Caleb mais próximo. Voltei ao perceber que seus olhos claros me observavam, fingindo costume como se não tivesse tendo aqueles pensamentos e como se não estivesse em meio a um desvaneio nítido, terminei de descer as escadas e me direcionei a frente do som que estremecia a casa e diminui a intensidade do mesmo sentindo alivio e a paz reinar novamente, virei-me e fingi novamente não perceber os olhos verdes fitarem minhas pernas nuas. 
-Como ousa interromper meu momento único com May? –Ele questionou resfolegando com dificuldade. Tive que encontrar forças para cogitar uma resposta rápida, tão rápida quanto à dele.

-Como ousa me acordar com este som nestas alturas? Será que não tem um pingo de respeito, nem me deixar dormir quer, será possível? Espero que não tenha acordado May, e que ela já tenha tomado sua mamadeira matinal, e que...

-Hey! –Andrew, me interrompeu, apontando para algum ponto específico na parede, parei de falar no mesmo instante e meus olhos seguiram a linha de seu indicador. Um papel grande na cor azul fora suspenso naquele canto da sala. Minhas sobrancelhas se franziram e minha curiosidade me fez caminhar em direção ao mesmo.


REGRAS DO Parker


1° Nunca fale alto comigo.

2° Nunca me aponte o dedo.

3° Não me interrompa, seja lá o que eu esteja fazendo.

4° Não reclame das minhas escolhas.

5° Não me apresse.

6° Não fale de assuntos os quais envolvam as minhas “perdas”

7° COMIDA. Pode fazer muita, eu gosto.

8° O que é MEU é MEU, então não toque nem use minhas propriedades.

9° Não me faça passar vergonha em público.

10° Não traga amigas idiotas para esta casa.

11° Somos livres para sair para onde quisermos e com quem quisermos. 

-Mais QUE MERDA É ESSA!? –Exclamei sentindo meu sangue esquentar em uma velocidade rápida.

-Regras. As minhas.

Sentia-me tão irritada, meu ego fora transpassado e meu orgulho todo acumulado, sentia vontade de esmurrá-lo e pisoteá-lo, pensar que estava sentindo uma atração por ele há segundos atrás só piorava a situação.

-EU ESTOU VENDO!

-E também está quebrando a primeira e principal regra. –Caleb disse, tão suave e melodiosamente. Acho que pra me irritar ainda mais com sua desigualdade, me fazendo sair como a louca e orgulhosa da história.

-Você só pode estar brincando comigo Caleb! Não é possível. –Gargalhei nervosa fitando por um único momento May quieta em seu colo. Sentindo-me sozinha e desprotegida.

-Não estou brincando, estou falando sério.

Silêncio.

 -Eu vou fazer o seguinte; Vou passar por isto e fingir que nada aconteceu, e que tudo não passou de uma brincadeirinha sua. Vou subir as escadas e me arrumar, quando eu voltar eu quero estar segura de que esta PORCARIA não estará mais pendurada na parede da sala. –Abri os olhos ao terminar de falar, e fitei os seus por um segundo.

-Eu não volto atrás, em nada que faço. Se eu deixei as regras postas ali, serão ali que elas ficarão.

Minha nota mental naquele instante:

“Será que se eu voasse em cima de Caleb e tentasse deformar sua cara seria um erro compreensível o suficiente para não ser julgado?”

Respirei fundo, vire-me fitando os degraus acima, aconselhada a mim mesma que, seria completamente inútil tentar discutir com alguém tão infantil como Andrew. Subi os mesmos decidindo ignorá-lo pelo menos pelo resto da vida.


O dia passou em uma lentidão terrível, tanto que quando vi a lua pendurar-se no céu uma alegria quase imensa preencheu-me. Caleb não estava em casa, muito provavelmente sairá para se divertir junto de seus amigos. Eu estava sozinha, mais uma vez. Respirei fundo, tentando decidir o que faria em plena noite de sexta-feira as 18h33. Não queria ir a casa de Abigail, queria descansar internamente.

Peguei May naquela noite e depois de arrumá-la ajeitei-a no carrinho, e sai.
Sai vagueando pelas ruas na companhia da bebê e da lua também, a rua estava calma, poucos carros passavam e as pessoas andavam calmamente por sob as calçadas. 
Parei, sentando-me no banco de uma das praças e respirei fundo em quanto o vento bagunçava meus cabelos, observei os traços de May, percebendo sua sonolência, a mesma passara o dia com Caleb, enquanto eu me ocupava com alguns afazeres domésticos, ajeitando os guardas roupas e também o quarto de hóspede onde Andrew ficará.
Estava tentando encarar aquela situação com maturidade, não me igualando a Caleb e fazendo como Senhorita Lillian gostaria que fizesse em uma situação como aquela, visando May uma prioridade maior, e esquecendo o orgulho, e toda a razão que acolherá dentro do peito, afinal aquilo só estava fazendo mal á mim mesma.

Suspirei. Notando May já adormecida no carrinho.

|Casa dos Parker|00hr52|

Os ouvidos atônitos de Chelsea capturaram o choro intenso de May. Um choro de dor que se seguiu até que a mulher chegasse ao berço. 
Cher pegou-a no colo ajeitando seus cabelos e notando sua testa quente, quente até demais, aquilo nunca havia ocorrido, franziu as sobrancelhas e sentiu uma fisgada de desespero quase dopá-la. 
Não sabia o que fazer, tentou acalmá-la e convencer a si mesma que aquilo não passará de uma impressão e que May voltaria a dormir tranquilamente depois de uma mamadeira morna.

Mas isto não aconteceu, a bebê chorava insistentemente, enquanto a mulher tentava acalma - lá e descobrir o que havia feito May ficar daquela maneira. Cher estava se sentindo extremamente irritada com os gritos da criança, que não cessavam sua cabeça já começava o processo de fervor novamente. Caleb apareceu na porta da cozinha onde encontrará uma Campbell agoniada e ao notar que a garotinha em seu colo ainda chorava sentiu a preocupação percorrer-lhe o corpo.
-O que houve com ela? – O fato de ter acabado de despertar de um sono profundo fez com que sua voz saísse completamente rouca. Cher o fitou, o fitou sem cuidados. Seus olhos percorreram toda a extensão dos braços de Andrew, o mesmo se encontrava com uma de suas blusas regadas na cor preta, seus lábios vermelhos e os olhos inchados o deixavam ainda mais atraente.
-Dá pra responder?
-EU NÃO SEI CALEB! EU NÃO SEI. –Cher respondeu, sentindo as bochechas ruborizando, porém com uma firmeza escondida por de trás de sua voz e de todo o constrangimento. 
Deu-lhe as costas e o sentiu andar até ela, chegando-se por de trás da mesma para tocar na testa da criança em seu colo.
-Ela está quente. –Caleb constatou tão preocupado a ponto de não perceber que Chelsea havia quebrado mais uma vez uma das regras.
-Eu percebi. – Cher disse baixo, com medo e sem saber o que fazer completamente amedrontada temendo ter posto May em uma situação de risco, virou-se para Andrew sem perceber o nível de distância, estavam muito próximos.
-Eu não sei o que fazer, e estou preocupada. –O semblante era de medo.
-Vamos, se arrume e arrume May também.
Caleb disse se afastando de Chelsea com uma expressão de pura seriedade.
-Mais... O que vamos fazer? – A mulher disse percebendo Caleb se afastar ainda mais.
-Vamos ao Hospital.  Ande logo!
O homem falou das escadas.

Chelsea suspirou fitando May avermelhada, uma pontada de preocupação tomou-lhe conta.

“Está tudo bem, está tudo bem, vai ficar tudo bem.”

Cher repetiu em um mantra tentando convencer a si mesma.

“Está TUDO bem...”

Repetiu a mulher, agoniada. 





"Porque eu tô ainda muito inseguro de mim mesmo, e não acreditando absolutamente que alguém possa me curtir bem assim como eu sou. Eu não tenho quase experiência dessas transações, me enrolo todo, faço tudo errado — acabo me sentindo confuso. Tudo isso é tão íntimo, e eu já estou tão desacostumado de me contar inteiramente a alguém, tão desacreditando na capacidade de compreensão do outro, sei lá, não é nada disso, sabe? Conviver é difícil — as pessoas são difíceis — viver é difícil. /CaioF."









Nota Breve da Autora: Agradecendo a Mel que comentou aqui <3 E expressar minha enorme alegria por esta história e minha paixão inegável por ela. Lembrar também que não sei ABSOLUTAMENTE NADA, sobre leis e, que apesar de ter estudado um pouco sobre o processo de tutela e adoção caso aja perda na família, não tenho plena convicção de que seja desta forma.Mas... Curtam a história e se deixem imaginar, afinal de contas... Tudo aqui é possível! :D

2 comentários:

  1. Você faz as leis, Ructhê (não sei porque eu gosto de chamar você assim) hahahaha
    Continuaaaaaaa! Menina, até interrompi os estudos pras provas pra ler.
    Kero mais
    To desesperada aguardandooooo

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  2. "COMIDA. Pode fazer muita, eu gosto." A única regra que eu gosto e me identifico. Ponto para Caleb.
    Eu fico tão aflita com essa situação da May. É tão real. Tão próximo de nós, entende? Não é uma realidade distante.
    Mas como eu não tenho coração (aquela carinha), confesso que também ri. O desespero dos dois é quase palpável, é tão adorável de se imaginar. T_T
    Queria dizer o quanto amo Caio Fernando Abreu, então vê-la o citando aqui é realmente incrível. Céus! Ele foi, definitivamente, uma pessoa maravilhosa.
    Obrigada por me proporcionar essa leitura, eu lhe amo imensamente. <3

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