C.H | For May | Capítulo 5

Por May. 


Lutar é continuar.

Marcio Jung


Chelsea se levantou no dia seguinte sentindo a cabeça girar; a mesma latejava. Seria necessário algum remédio que aliviasse aquele desconforto.

Campbell adentrou no quarto ao lado para observar May dormindo em quanto prendia o cabelo em um coque desengonçado no alto da cabeça, beijou a testa da pequena que resfolegava com calma e depois tratou de ir ao banheiro para cumprir com sua disciplina diária. Era sempre daquela mesma maneira que concluía a primeira parte de seu dia, uma rotina incansável que nunca acabava.

Desceu as escadas e depois disto seguiu-se a seqüência:

Leite mornando, mamadeira em mãos, casa organizada.

-Roger! - Exclamou ao sentir os pelos eriçados roçarem em suas pernas e sorriu, Abaixou-se para  acaricia-lo - Como está, grandão? -Perguntou Cher, como se ele fosse capaz de responder. Roger era um Husky Siberiano  incrívelmente lindo de pelagem preta meio acinzentada, os olhos claros alcaçaram e sem saber o porquê a mulher se sentiu feliz, alegre. Durante os meses que se seguiram a mesma não estava dando a atenção devida a ele, Abigaiul que lhe dava os devidos cuidados. 
-Me desculpe por estar sendo tão irresponsável como você meu amor. - Falou, ele pareceu compreender pois emitiu um som diferente. - Prometo cuidar melhor de você- a Jovem mulher deixou um beijo em seus pelos no alto de sua cabeça.
  
Depois de concluída toda obrigação Chelsea deixou que as pálpebras descansassem e o corpo relaxasse por sobre o sofá, suspirou sentindo a onda de desespero embriagar-lhe por inteiro, porém lembrando-se sempre de que poderia ter sido bem pior do que imaginou que seria. Ouviu o choro de May e instintivamente correu para buscar por ela. Quando já estava pondo a menina em seus braços, seus ouvidos capturaram o som da porta sendo aberta e algumas coisas sendo arrastadas por sobre o piso, fazendo ecoar por entre os cômodos o som estridente de algo pesado chocando-se por sobre o chão, a mesma ficou atônita a qualquer som peculiar e inclinou a cabeça em direção da porta com May já em seus braços. Não ouviu nada suspeito e decidiu descer as escadas em direção a fonte de tanta preocupação e curiosidade que aqueles sons estavam lhe causando.

-O que faz aqui? –Chelsea questionou sem saber se usaria o tom exclamativo ou interrogativo.  

-“O que eu faço aqui?” - Andrew refez a pergunta usando de seu tom casualmente irônico, fazendo o sangue de Cher esquentar por de trás de seus brincos.

-É. O que faz aqui? – Campbell reafirmou questionando ao mesmo tempo, decidindo que evitaria mais brigas verbais, pelo menos por aquele momento. Caleb jogou-lhe alguns papéis insinuando que, a resposta para aquilo que Chelsea tanto ansiava se encontrava naquele amontoado de escrituras. A mulher franziu o cenho ouvindo os resmungos de May em seu colo e se controlou ao máximo, ponderando seu tom de voz e certificando-se de seu autocontrole antes de voltar a falar. – Compreendo.  – disse em um sussurro, antes de passar por Caleb. Ele a segurou pelo braço antes que ela pudesse voltar à cozinha, Cher arregalou as orbes esverdeadas em quanto as de Andrew queimavam em pura ira. Ele se fez cuidadoso a segura-la para que não pudesse machucar a mesma e assustar May que estava em seu colo, e este foi o único motivo que se fez compreensível o fato de Chelsea não ter ralhado com ele.

-Por que faz isso? – Campbell sibilou em sussurro em quanto segurava uma May de olhos úmidos, se sentiu tão culpada.

-Escute aqui-, Parker sibilou; os músculos tensos, mandíbula cerrada, o olhar focado no olhar de Chelsea em quanto dizia e entre dentes ponderava toda vontade de gritar com ela. Nem mesmo ele compreendia o motivo de toda aquela raiva. -, não quero dificultar a situação, mas preciso que você coopere.

-Eu não lhe fiz nada! – Cher puxou seu braço novamente para si, o olhar franzido carregava à ira que se instalou dentro de seu peito. – Deixe de ser tão maleável, e incompreensível! Não lhe tratei com ignorância, você que se precipitou me dizendo todas estas coisas! Sequer me lembrava da porcaria desta aceitação. – A mesma apontou para os papéis jogados por cima da persiana, lembrando-se da maneira que fora tratada há segundos atrás. Quem não deve complicar as coisas aqui é você! –Exclamou apontando-lhe o dedo com a mão que estava desocupada.

-Primeira Regra que deve ser seguida para o bom convívio entre nós dois: Não grite comigo, sequer eleve o tom de voz. – Campbell teve vontade de rir. – A segunda é bem clara: Não me aponte o dedo, NUNCA. –Chelsea gargalhou nervosa seguindo em direção a pia para verificar a temperatura do leite de May, certificando-se estava morna. Depois disto levou a mesma a boca da menina que sugou com força, suspirando ao sentir o liquido morno descer por sua garganta. Chelsea sentiu-se culpada novamente, que falta de responsabilidade! Ficou pensando que deveria ter dado o leite a menina antes, e passou a se questionar a quanto tempo May estiverá acordada enquanto a mesma estava no andar de baixo da casa –... A sétima é fácil: Gosto de espaço, por isso peço para que deixe um cômodo separado especialmente pra mim. – Caleb resfolegava, enquanto metralhava suas imposições e a mulher a alguns metros de distância dele dava-se conta de que não prestará atenção em algumas, Cher virou-se incrédula e riu novamente ao ver um Andrew sentado em uma das cadeiras, numerando nos dedos a quantidade de regras que estavam sendo impostas naquele momento. Ela riu. Riu sim, mas a raiva instalava-se em grande parte de seu corpo atingindo cada célula de seu pensamento.

-Você está ficando maluco? – Ela olhou-o de maneira desesperada pondo May em seu carrinho, certificando-se de que o mesmo estava travado enquanto ouvia Caleb dizer.

-Não. Mas, acho que seria muito melhor se fizéssemos desta maneira. Não quero ter que fazer você passar por um amontoado de situações para descobrir do que gosto ou não gosto.

-Não. Não é possível meu Deus! –Cher gritou para o nada, como se houvesse uma terceira pessoa que pudesse ouvi-la de algum lugar do mundo, ou de fora dele. – Você REALMENTE, não está bem. Primeiro chega aqui cheio de posse me intimando e depois se senta e começa a enumerar regras? Você ta pensando que eu sou o que? – Campbell olhou-o nos olhos.

-Não estou pensando nada, estou usando de algumas regras para o nosso bom convívio. Não quero ter que ficar discutido com você toda hora que fizer algo que não gosto! Isso vai ficar cansativo porque não vou ficar lhe corrigindo a todo o momento. – Cher o fitou atentamente. -, Compreende agora? –Parker abaixou o tom de voz gradativamente.

-Você está levando isso tudo como o que? Como uma empresa onde você é o chefão? Que impõe regras de convívio? –Chelsea a intimou raivosa, Andrew calou-se, Campbell compreendeu o silêncio como uma afirmação e gargalhou levando o dedo indicador a sua frente balançando-o como um sinal de negação. – Não, não. Eu sinto muito, não sou e muito menos serei sua contratada. – E passou por ele pegando May com cuidado, subindo com ela para o quarto junto da mamadeira. Cher sentia-se terrivelmente abalada e irritada mediante toda aquela situação. “Como Caleb poderia agir daquela maneira mesmo depois de tudo que Chelsea fizera por May?” Era somente esta questão que perambulava pela mente de Campbell durante o percurso da cozinha até o quarto logo acima.

Campbell deixou para trás um Caleb também irritado e terrivelmente raivoso. Aquela altura do campeonato seria um erro se desencorajar e voltar atrás? Sim, seria. Andrew sabia que era necessário visar May  e esquecer completamente Chelsea Campbell, priorizar a pequena garotinha era seu maior objetivo, mas isso não seria possível, convivendo debaixo do mesmo teto que a mulher. Caleb pegou suas malas cobertas de roupas e utensílios e subiu as escadas com dificuldade precisando utilizar as duas mãos para conseguir puxar os objetos para cima, tropeçando nos degraus e quase tombando para o lado oposto. Parker andou pelo corredor, sabendo que Chelsea poderia estar em alguns dos cômodos. “Onde ficarei?” A pergunta se instalou em seus pensamentos.

-Provavelmente no último cômodo, é preferível ficar isolado de tudo isso aqui, e evitar ver Campbell por entre os quartos. – O homem sibilou contragosto, muito irritado pra se quer pensar em rever Chelsea.

Abriu a porta do último cômodo daquele corredor e sentiu o estômago revirar-se tamanha a nostalgia que o inundara naquele momento. Fechou os olhos e deixou que suas mãos deixassem de envolver a alça da mala, a mesma caiu no chão e o barulho ecoou pelo corredor chegando até o quarto mais a frente. Chelsea levantou-se assustada, calçou os pés e deixou May cochilando em seu berço, andou por entre os quartos procurando a razão do ecôo. 
Em quanto isso , Caleb adentrou ao cômodo inalando o cheiro das tintas, enquanto lágrimas se formavam no canto de seus olhos, a saudade iniciava seu processo. Ele andou por entre o lugar avaliando algumas pinturas quais foram feitas por sua cunhada, aquilo fez seu coração bater descompassado.

-O que faz aqui? – Chelsea apareceu na porta e Caleb limpou algumas lágrimas que rolaram sem sua permissão.

-Você não cansa de repetir sempre a mesma coisa? –Ele questionou a voz esganiçada. A janela aberta possibilitando que o primeiro flerte de luz passasse pelas cortinas, refletindo em suas íris castanhas molhadas por algumas lágrimas. Chelsea fitava suas costas de longe e pela primeira vez, o sentiu vulnerável, e naquele momento, foi como se ser cuidadosa com as palavras fosse seu dever. O silêncio instalou-se no ambiente por alguns pequenos segundos.

-Lillian foi mais que uma simples cunhada. – Ele disse por fim. – Lillian foi o motivo pelo qual meu irmão fora salvo. – Cher reprimiu os lábios, não compreendendo o motivo daquela afirmação. – Lembro-me das manhãs frias de abril em que viajávamos para casa dos nossos avôs, Clark sempre foi muito achegado ao vovô e isso de certa maneira, sempre gerava ciúmes em papai – O homem riu com as lembranças que passavam por sua mente em milésimos de segundos. -, porque ele preferia a dormir lá, jogar golfe e assistir partidas de basquete ao lado dele, e isso de certa maneira deixava papai meio que desconcertado – e riu novamente. Os dentes brancos e enfileirados apareceram novamente, o sol batia em seu rosto o moldando com cuidado. Os olhos brilhavam com mais intensidade. – Até que, vovô morrerá em uma das noites de abril. Éramos novos, estávamos na faixa dos doze anos, não sabíamos ao certo dizer qual fora o motivo de sua morte, somente depois de algum tempo que descobrimos que ele havia morrido por conta de um câncer que atingirá seu pulmão. Clark ficará deprimido por longos dias, não queria comer, nem beber e muito menos sair do quarto, dificilmente se alimentava e quando isso acontecia eram uma quantidade pequena de comida. Mamãe começará a ficar preocupada, e decidiu o levar em um psicólogo. Clark deu um jeito de não ir ao mesmo, disse que já era velho e que sabia lidar com tudo aquilo, que não estava louco e que tinha o controle suficiente da situação. Os dias se passaram os meses e assim os anos também se foram indo. Meu irmão nunca mais fora o mesmo de antes da morte de vovô, quase não falava e dificilmente se enturmava com pessoas de seu grupo social. Mamãe e Papai já não tinham mais o que fazer. Sofria, porque sentia a necessidade de ajudá-lo, mas não encontrava formas para fazê-lo. – Caleb parou por alguns segundos.

Silêncio.

-Eu chorei por diversas noites, sei lá por qual motivo. Talvez por estar vendo Clark se perder e não poder o ajudar a se encontrar.

fungou, limpando rapidamente as lágrimas que teimavam em escorrer do canto de seus olhos.

Mais silêncio.

Uma Chelsea estática estava presente na porta da frente, fitando um Parker de costas.

-Depois disto, Clark conseguiu encontrar um grupo de amigos. Mamãe ficou muito feliz quando ele disse que sairia uma noite, e por aquilo nunca acontecer ela o deixou e o deu liberdade, mas... As coisas não aconteceram como o ansiado, Clark começou a se meter com gente barra pesada, até hoje nunca soube se ele chegou a usar algo como drogas ou bebidas fortes, mas não duvido que em alguma daquelas madrugadas ele tenha feito. Depois disto tivemos que nos mudar de cidade, foi onde meu irmão conheceu Lillian, uma moça muito adorável, que gostava de flores, pinturas, cinema e paisagens, aos poucos o antigo Clark ressurgiu, a mudança não foi radical nem aconteceu do dia pra noite, mas foi recompensador e muito gratificante para todos nós saber que ainda existia uma esperança e que fora encontrada. 
Até hoje me pergunto como poderia uma pessoa distinta fazer acontecer mudanças que nem nós mesmos conseguimos operar em Clark. Admirava Lillian pela sua calma, por sua gentileza e por tudo que ela já fez por meu irmão.

Chelsea prendeu a respiração fechando os olhos fortemente e os abrindo em seguida para fitar os quadros pintados por ela, sentindo a vontade de chorar ficar mais intensa. Por que tudo aquilo agora? Perguntava-se Campbell.

-Não só pelo que fez, mas pelo que era. Sei que para muitos ela não passou da simples e tradicional Lillian, mas para mim, pra mim ela foi à inesquecível, excepcional Lillian.

Cher deixou as lágrimas rolarem, notou que o silêncio se fez sentindo e por algum motivo, ainda não encontrado e nem compreendido por ela, andou até Caleb, assim que ele percebeu que a mesma vinha em sua direção virou-se para fita-la. Os olhos molhados por lágrimas se encontraram. A nostalgia ainda pairava no ar, pára Caleb era como se Lilli ainda estivesse viva e em algum lugar daquele cômodo.

-Desculpe. –Caleb sussurrou.

-Tudo bem. –Cher compreendeu e assentiu.

-Estou me sentindo fraco. –Parker continuou sussurrando-, como se estivesse esgotado.

-Normal. –Cher disse baixinho, esganiçado. -, eu também me sinto assim.

Caleb não sabia por quais outros motivos se desculpar, mas tinha em mente que precisava de uma vez por todas liberar pelo menos uma parte daquela culpa que preenchia seu coração.

Silêncio.

Os olhos de Chelsea fitaram o chão.

-Me desculpe por ter sido tão rude. –Parker falou, quebrando o orgulho.

-Tudo bem. –A voz de Campbell sairá falhada.

-Podemos ao menos tentar nos manter maduros em nome de May?

Chelsea assentiu, sentindo-se por algum motivo inexplicável, mais leve. 

-Estamos aqui e chegamos até aqui por ela certo? – Andrew perguntou, se achegando mais perto de Campbell, tocando seu queixo e erguendo-o para que os olhos se fitassem.

-Uhum. – A mulher fechou os olhos ao perceber que as íris de Parker fitavam as suas, um misto de vergonha e orgulho inundou-a, ela ainda não estava certa do que afirmará.

-Okay. – Ele se separou dela e voltou a fitar os quadros que estavam postos ali, Cher o fitava.

O que acontecerá aqui?” Era o único pensamento que passeava pela mente da mulher estática logo a trás.

2 comentários:

  1. Cheguei, Rutchê :D
    Tava sentindo falta da história, até fiquei inventando o resto dela depois que você sumiu
    Continuaaaa, tá ótimo!
    Tô esperando mais capítulos!

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  2. Nesse momento meu amor por Caleb é predominante ao "ódio" que sinto por ele. Tão fragilizado, sensível, humano. Eu realmente senti muito por vê-lo assim, mas não posso deixar de ressaltar o quanto isso me fez bem também. Afinal,ele aparenta ser uma pessoa forte e durona, então eu consigo enxergar melhor o lado mais "humano" dele. Esse lado que estava escondido por trás da máscara que ele criou. Esse capítulo é amor! Obrigada por me proporcionar essa leitura, amo-te imensamente. <3

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